Os caminhoneiros e transportadoras que atuam em Mato Grosso avaliam iniciar uma paralisação em busca de melhores condições de trabalho e do estabelecimento de preços mínimos para o escoamento de grãos. A ameaça vem na esteira da quebra da segunda safra de milho do Estado – calculada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea/Famato) em 6 milhões de toneladas -, que fez despencar a demanda por serviços de transporte nas últimas semanas.
“A situação já era desesperadora diante do aumento da oferta de caminhões, mas com a queda da demanda, não estamos conseguindo pagar os custos para manutenção dos veículos”, diz o presidente da Associação dos Transportadores de Carga de Mato Grosso (ATC-MT), Miguel Mendes. O dirigente também reclama das tradings de grãos, que, segundo ele, formam “uma espécie de cartel” e mantêm grande influência na formação dos fretes de grãos. As tradings não quiseram dar entrevista, mas negam tal movimento.
Segundo Mendes, as manifestações em análise não incluem fechamento de estradas. “Isso é contraproducente e coloca a população contra nós. A ideia é ficar com os caminhões parados, mas estamos definindo quando e como”. Ele afirma que, nos últimos três anos, houve um aumento da oferta de transportadores no Estado de 40%, diante das facilidades oferecidas pelo governo para a compra de caminhões – principalmente os financiamentos do BNDES, com juros de 2,5% ao ano.
Além de reclamar da influência das tradings sobre os preços dos fretes, Mendes também diz que algumas empresas continuam sem arcar com os custos de estadia previstos na lei nº 11.442, que disciplina o transporte rodoviário de cargas. Pelo artigo 5º do texto, ficou determinado que o prazo máximo para carga e descarga de um veículo é cinco horas, contadas a partir da chegada do mesmo ao endereço de destino. Após esse período, a companhia contratante tem que pagar R$ 1,52 por tonelada por hora parada.
“Elas pagam R$ 0,70, no máximo. O fato é que a ANTT não tem condições nem dinheiro para fiscalizar o setor”, diz Mendes. Também conforme o dirigente, há tradings e embarcadores de grãos que não estão pagando o valor dos pedágios como previsto na lei nº 10.209, de 2001. Tradings como ADM, Bunge, Cargill e Ceagro também foram questionadas sobre esses pontos, mas deram respostas protocolares.
A Cargill declarou que “não comenta rumores de mercado e que repudia qualquer prática neste sentido”. A Louis Dreyfus, por sua vez, afirmou que “repudia e não compactua com qualquer atividade que fira a legislação ou normas regulatórias vigentes e reforça, ainda, que o segmento de logística é de livre concorrência”. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que representa as grandes tradings, preferiu não se manifestar.
Do lado dos produtores, a queda do valor dos fretes já é palpável, em um momento em que normalmente ocorre o contrário. Em algumas rotas, a redução passou de 10% na comparação com maio, época de início da colheita da safrinha de milho mato-grossense. Levar uma tonelada de milho de Sinop (MT) a Santarém (PA), por exemplo, custa atualmente R$ 245. Em maio, custava R$ 280. Na rota mais conhecida, de Sorriso (MT) a Santos (SP), o preço subiu menos que o esperado – de R$ 265 a tonelada, em maio, para R$ 285 -, de acordo com levantamento do Sindicato Rural de Sorriso.
Cálculos do Imea mostram que o frete Sorriso-Santos caiu R$ 49 a tonelada em relação a julho do ano passado. O valor praticado neste ano é R$ 41,65 a tonelada menor que a média dos últimos três anos. “O fato de o mercado interno estar absorvendo com maior intensidade esse primeiro milho disponível se refletiu em uma demanda menor por caminhões, pressionando as cotações do frete”, diz boletim do instituto.
Ângelo Ozelane, assessor técnico do Imea, afirma, porém, que uma correção deve ocorrer em agosto e setembro porque os contratos de exportação foram fechados antecipadamente para entrega nessa época. “Nessa época de 2015, o valor chegou a R$ 310 a tonelada para o transporte de Sorriso a Santos. Podemos voltar a registrar esse patamar”. Mas o ano passado foi “atípico”, porque Mato Grosso colheu uma safra recorde de milho enquanto outras regiões do país viviam escassez. “O milho mato-grossense estava R$ 12 a tonelada mais barato que o do Paraná. Daí tanta demanda”, observa.
Ozelane afirma, finalmente, que a programação das tradings para entrega escalonada de grãos nos portos também tem reduzido a demanda por caminhões. “Já não há mais o desespero de levar o milho para o porto correndo porque é preciso respeitar a agenda”. Conforme o Imea, 69% da produção do Estado já foi negociada e 7,27 milhões de toneladas (33% da estimativa total) foram destinadas aos portos do país.
Fonte: Valor
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