Neste mundo de incertezas não existem receitas e nem fórmulas para sabermos como será o ano de 2014. Existe apenas a oportunidade de um recomeço, a chance de fazer tudo aquilo que foi deixado para trás no ano que passou. Uma nova jornada que se inicia rumo à felicidade e conquistas, tanto pessoais quanto profissionais. Sem querer pintar um quadro pessimista, a realidade é que para o carreteiro autônomo é difícil planejar. Em um mês tem carga o suficiente para sua sobrevivência, enquanto que em outro a movimentação é tão fraca que o valor que recebido mal dá para sobreviver.
O carreteiro Edevigues Messias, de 49 anos e 15 nas estradas transportando carga seca em seu próprio caminhão, um modelo fabricado em 1983, reconhece que realizar os planos não é fácil. “Não planejo minha vida, o que tem de acontecer, acontece. Se eu puder comprar eu compro”, fala desacreditado de tudo, mas mesmo assim tem opinião de que a profissão de carreteiro é a que dá mais retorno.
Estudou até concluir o segundo grau dirige cerca de oito horas por dia, chegando a fazer até três viagens por semana sonha poder comprar um caminhão novo. “Por isso trabalho tanto, mas se o governo incentivasse nossa categoria, reduzindo os impostos, com certeza eu já estaria com o meu caminhão novo. O governo dá incentivo para os estrangeiros e empresários, mas para o carreteiro autônomo não”, reclama.
Sobre o ano que passou, não tem nada a reclamar, porém, não acredita em estabilidade econômica para 2014. “Se tiver saúde a gente enfrenta as dificuldades, mas do jeito que este País está indo acredito que vai estourar uma crise. Está claro que o Brasil precisa de uma reforma urgente”, opina. Lembra que este ano tem eleições e sugere se a presidente Dilma Roussef for reeleita, bem que ela poderia dar melhores condições para os carreteiros autônomos, incentivando a renovação da frota da categoria.
Em relação à Lei do Motorista, sancionada pelo governo federal, Edevigues diz não ter mudado muito sua rotina, pois percorre curtas distâncias e dorme em casa. Pensa que o governo não tinha que se intrometer em controlar horário de carreteiro e deveria fiscalizar mais as estradas e os motoristas drogados e alcoolizados que estão por aí. “Não estou falando somente dos carreteiros e sim de todos os motoristas que andam pelas estradas”, acrescenta.
Outro carreteiro, o baiano José Humberto de Oliveira Macedo, de 44 anos de idade, roda todo o Nordeste transportando, óleo de soja, polietileno e farelo de soja, leite, entre outros produtos, reclama que o ano de 2013 foi fraco demais. “No ano passado não tivemos muito frete. A concorrência está alta, além disso o cliente trabalha em cima de preço. Se a gente não tem preço, não roda. O mercado está bem complicado”, reclama.
Macedo explica que muitos carreteiros compraram caminhão com as linhas de financiamento disponíveis, e como precisam pagar as prestações aceitam frete a qualquer preço. “Vários empregados de transportadoras também se desligaram de suas empresas, compraram caminhão e estão disputando conosco, que estamos há muito mais tempo no mercado”, explica.
Ele chega a fazer duas viagens por mês com seu caminhão apelidado de Bob Esponja, fabricado em 2007. Casado e sem filhos, viaja sempre sozinho e chega a dirigir cerca de 10 horas por dia. “Gosto de sair bem cedinho, paro na hora do almoço e dirijo até por volta das 18 horas. Sempre pernoito em posto de combustível e durmo na cabine”, diz.
Insatisfeito com o valor do frete, José Humberto, não acredita que o ano de 2014 venha a ser bom para o setor. Por ser um ano em que a Copa do Mundo de Futebol será realizada no Brasil, ele não tem esperança que haja melhora no fluxo de carga. Segundo ele, se fosse para melhorar, com certeza já teria aumentado a movimentação de mercadorias. “Para nós, que rodamos nas estradas, pouco girou. Não acredito no aquecimento da economia por conta da Copa do Mundo”, opina. Lembra que o carreteiro tem de alimentar a família, manter o caminhão, pagar seguro, óleo diesel e muitos outros compromissos, por isso a vida do autônomo é uma bola de neve. “Vontade de trocar de caminhão a gente tem, a taxa de financiamento do Procaminhoneiro é até razoável, mas é muita burocracia para termos acesso. As portas não se abrem para nós como para outras categorias”, reclama.
Diz que 2013 foi um ano bom, mas quer esquecer 2012, ano em que roubaram seu caminhão. “Precisamos de mais segurança. Alguns postos de combustíveis cobram pedágio para estacionarmos, tomarmos banho, enquanto que em outros precisamos abastecer para ter estes benefícios. Mas, na realidade, nenhum oferece segurança”.
As estradas têm muito ainda que melhorar, principalmente no Nordeste. Segundo ele, as concessionárias responsáveis não têm competência alguma para cobrar pedágio, inclusive na Bahia, onde a malhar viária deixa muito a desejar. “Tem muito pedágio e nada em troca. Perdi um amigo na BR324 por falta de infraestrutura da rodovia”, fala desacreditado. José Humberto afirma que o Brasil é um País muito rico, mas existem muitas coisas que deveriam ser revistas, como por exemplo, a distribuição de renda. “O patrimônio é nosso e quem ganha dinheiro é a empresa de transporte que contrata a gente. Tá tudo errado”.
Lembra que as empresas de transporte de cargas exigem que os pneus estejam em condições de uso e segurança, o certificado do tacógrafo aferido, fundo do caminhão alto, documentação do veículo e do motorista em ordem, mas pela segurança dos carreteiros elas não se preocupam. “Enfrentamos estradas ruins e viajamos dia e noite para atender o prazo de entrega da carga no cliente, nos deparamos com prostituição, drogas, tudo. É uma profissão muito arriscada”, declara. Ele tem esperança de um dia voltar para a terra onde nasceu, no interior da Bahia.
Por isso os desejos do caminhoneiro para 2014 não são modestos, ele quer melhoria do setor, incentivo na troca de caminhão, segurança e conforto nos postos de combustíveis, fiscalização nas estradas em relação ao sobrepeso nos caminhões, entre outras coisas. “O governo deve desvendar os olhos e ver tudo isso aí”, conclui.
Já o jovem Genivaldo de Jesus, motorista de 28 anos de idade e nove na estrada, planeja terminar de pagar seu caminhão em 2014. Além de gostar da profissão e achar que é um sofredor, Genivaldo diz transportar tudo em seu caminhão, um modelo leve fabricado em 1998, desde cargas de alimentos, eletrônicos e móveis principalmente para o interior da Bahia e todo o Nordeste.
Afirma que durante a semana trabalha das 4 horas da manhã até às 22 horas. Diz que a Lei do Motorista ainda não está causando problemas para ele e que não roda mais que isso porque tem medo dos ladrões nas estradas. Dorme geralmente na cabine do caminhão e vai para casa nos finais de semana. Diz sofrer muito com a proibição da operação de carga e descarga nas cidades, por isso acaba sendo obrigado a parar para descarregar o caminhão em lugar proibido, e consequentemente, pagando diversas multas.
Genivaldo reclama que o ano de 2013 foi ruim por conta do alto custo do óleo diesel, principalmente no mês de agosto. “É tanta lei e impostos neste País. Temos de mudar isso. Quero em 2014 uma vida mais sossegada e tranquila”, afirma. Segundo ele, sua diversão é conhecer novos lugares. “Nasci dentro de um caminhão, meu pai é carreteiro. Minha vida é viajar e conhecer a cada dia um canto deste país tão grande. Apesar de estar trabalhando, dá para se divertir bastante, conhecer gente nova, enfim gosto muito do que faço”, finaliza.
Por falta de oportunidade de estudar, Milton Miranda, 35 anos de idade, se profissionalizou na estrada. Transportando cargas de tinta e polietileno entre Salvador e Recife em seu caminhão ano 78, ele, quando pode, leva sempre seu filho mais novo que é apaixonado por caminhão e adora viajar. “Se esta profissão for fazer meu filho feliz, não me oponho. Ele tem de seguir o coração dele”. Durante as férias escolares e nos finais de semana, o filho mais novo de Milton o acompanha. Além de ajudar o pai, faz companhia e lhe dá muito carinho. “Solidão não é fácil”, suspira o carreteiro.
Em 2014, ele espera que o valor do frete tenha uma melhora, para que os carreteiros fiquem mais estimulados. “Justamente por isso que tenho um caminhão fabricado no final dos anos 70. Nunca sobra dinheiro para investir. Se for para me afogar em financiamento não terei como pagar as prestações”, reconhece. Milton fala com o coração apertado que se seu caminhão parar de rodar vai procurar outra coisa para fazer, como por exemplo, dirigir ônibus. “Afinal de contas tenho uma família para sustentar”.
Diz que planeja sua vida e espera que este ano que se inicia seja melhor e que valha a pena viver nas estradas. “É muito gratificante ser carreteiro, porque transportamos tudo que as pessoas consomem. E, quanto mais viagens fazemos, mais dinheiro, conhecimento e amizade ganhamos. Isso é amor. A decepção é pelo valor do frete, mas o meu amor pela estrada é muito grande”, declara. Outro ponto destacado por ele para 2014 é referente ao maior cuidado que as autoridades devem ter para olhar para o setor de transporte, valorizando o trabalho do carreteiro autônomo. “Que tenhamos neste ano uma grande movimentação de carga e uma maior valorização de nossa categoria para podermos oferecer um melhor conforto para nossas famílias”. Milton não está muito satisfeito com a economia no Brasil, mas de acordo com as informações que ele tem sobre a economia mundial, o Brasil está bem melhor. “Hoje a gente tem o direito de reclamar, o que não podíamos fazer. Isso já é um grande passo”, comenta.
Ele acredita na estabilização da economia para este ano que se inicia e afirma que tem muita coisa a ser feita para melhoria do setor de transporte. “O maior absurdo em nosso setor é que a transportadora que nos contrata ganha mais do que a gente, sendo que o instrumento de trabalho é o nosso caminhão e a nossa mão de obra. Enquanto isso, as empresas ganham entre 60% e 70%, e nós, ficamos com o que sobra”, esbraveja.
Como se estes fatores não fossem o suficiente, o carreteiro afirma ter ainda que enfrentar as estradas que não estão boas e acabam oferecendo perigo, principalmente quando se roda pela madrugada. “Prefiro viajar à noite, quando a rodovia fica mais livre, o clima está mais fresco, além do desgaste do veículo ser menor e render muito mais”. No ano de 2013, seu caminhão teve vários problemas na caixa de marchas e no motor. Sua expectativa é que nada disso se repita em 2014.
Sua expectativa para este ano é que a vida melhore para ele poder comprar um caminhão novo e assim continuar desempenhando a profissão que tanto ama. “Estou perto da família, estou feliz. Tenho uma família boa, filhos maravilhosos, Deus tem me abençoado bastante e aproveito esta oportunidade para deixar uma mensagem para todos os carreteiros do Brasil: Que todos tenham fé em Deus, muito amor no coração e acreditem que há esperança de um mundo melhor, cheio de amor e paz”, conclui.
Fonte: Revista O Carreteiro - 471
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe um comentário, é muito importante saber a opinião dos meus colegas de estrada.
Abraços do Africano.