Hoje, 61% da produção de grãos do Brasil são transportadas por rodovias, o jeito mais caro e poluente possível. Embora o Centro-Oeste, principal produtor de carne e grãos do país, esteja mais próximo dos portos do Arco Norte, mais de 80% da produção de soja e milho segue para os portos do Sul e Sudeste, chegando a percorrer mais de dois mil quilômetros. Os dados são da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).
No pico da safra, faltam caminhões, motoristas, estradas e armazéns. Os fretes custam até cinco vezes mais que nos Estados Unidos ou Argentina.
Enquanto na Argentina e nos Estados Unidos o custo do frete sai a US$ 20 e US$ 23 por tonelada, no Brasil custa US$ 100. Se o país tivesse estradas que permitissem o escoamento da produção pelos portos do Arco Norte, a economia no frete poderia chegar a 30%. Agora se tivéssemos uma matriz de transporte mais adequada, poderíamos estar deixando de perder mais de US$ 50 por tonelada de soja, ou US$ 2 bilhões de dólares, se considerarmos só as exportações de 40 milhões, de acordo com o 9º Levantamento de Safra da Conab. É o que explica o presidente da Aprosoja Brasil, Almir Dalpasquale.
No Mato Grosso, a questão é ainda mais complicada. As estradas que ligam as principais cidades produtoras do interior até as rodovias estão em péssimo estado, muitas não são nem mesmo asfaltadas, formando grandes atoleiros. A BR 163, rodovia mais utilizada para o escoamento, tem buracos em diversos pontos.
O Mato Grosso do Sul, que produziu 6,1 milhões de toneladas de soja na safra 2013/14, vem enfrentando o mesmo problema. De acordo com o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Riedel, o estado e o país estão atrasados no desenvolvimento logístico.
Riedel afirma que, atualmente, Mato Grosso do Sul tem capacidade de armazenar apenas metade da produção agrícola do estado e, com isso, os caminhões acabam servindo como silos nas filas dos portos.
Para o presidente da Aprosoja-MS, Maurício Saito, a urgência dessa demanda tem reflexos num futuro próximo.
Saito comenta que pouco adianta contarmos com caminhões modernos e ágeis, com os portos em estado de calamidade. Segundo ele, o governo não acompanha a evolução do campo e essa situação causa entraves. Se não remodelado em tempo, o sistema logístico de Mato Grosso do Sul causará futuramente gargalos ainda maiores e os prejuízos serão imensuráveis.
Japão pode investir na logística brasileira
No início deste mês uma reunião com investidores japoneses, em Brasília, abriu caminho para o setor discutir as oportunidades de parceria entre os países.
O ministro da Agricultura, Neri Geller e o secretário de Política Agrícola, Seneri Paludo, mostraram que há uma oportunidade concreta de investimentos de empresários japoneses em infraestrutura e logística no Brasil. Foi traçado um panorama dos gargalos da logística no país, que afetam e limitam diretamente o faturamento do agronegócio brasileiro, principalmente, dos produtores de grãos do Centro-Oeste – contou Dalpasquale.
Um grupo de trabalho foi criado para discutir as possibilidades de contratos, sempre com o objetivo final de melhorar o escoamento da safra de grãos do país. Com mais uma safra recorde em vista, a necessidade de investimentos é urgente.
“Devemos produzir entre 87 e 90 milhões de toneladas. Com a perspectiva de que seja um ano de El niño, período de boa umidade para a safra, o que deve garantir uma produtividade de regular a boa das lavouras de soja. Além disso, ainda temos um potencial de pelo menos sete milhões de hectares de pastagens que podem ser incorporados, gerando cerca de 21 milhões de toneladas de soja e um potencial de mais de 10 milhões de milho segunda safra. Ou seja, a pressão sobre a infraestrutura e logística só irá aumentar” finaliza Dalpasquale.
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