A linguagem das estradas


As facilidades para se adquirir um veículo e os incentivos do governo proporcionaram que a frota brasileira crescesse em proporções assustadoras nos últimos anos. Com esse aumento, os cuidados com a manutenção, o respeito e a obediência à sinalização de trânsito, bem como a observação da comunicação visual utilizada entre os motoristas podem ser decisivos para se evitar um acidente, principalmente em rodovias. 

Observando atentamente as estradas, depara-se com muitos motoristas, principalmente os caminhoneiros e os condutores de ônibus, piscando os faróis/lanternas, ou mesmo gesticulando com as mãos: é a linguagem das pistas.
Não há como não se impressionar com os sinais, pois eles são baseados na confiança, no conhecimento e no corporativismo entre os profissionais das estradas, o que é estranho para quem dirige somente no trânsito urbano. 
Poucos conhecem esse tipo de comunicação, pois não observam os outros motoristas. Muitos não conseguem entender como dois desconhecidos podem se comunicar quando estão embutidos no complexo e difícil fenômeno trânsito.
Considerando que o trânsito rodoviário é mais tranquilo, espontâneo e camarada (descartando finais de semana, feriados prolongados e período de férias escolares, quando os motoristas urbanos e os estradeiros se misturam), essa comunicação se torna muito importante.
Os principais meios desse tipo de comunicação envolvem a seta de direção e os sinais de luz. Conhecer e entender tal “linguagem” deve fazer parte dos mandamentos de todo bom motorista.
Há duas situações em que essa comunicação pode ocorrer: quando os motoristas estão no mesmo sentido ou quando estão no sentido contrário. Tal situação faz com que essa comunicação tenha um espaço de tempo muito curto para acontecer e depende da atenção dos motoristas. Geralmente, começa com sinal de luz, para chamar a atenção. 

Piscar a seta para a direita: é como se o motorista estivesse dizendo ao que vai passar “que a pista está limpa, sem acidentes ou qualquer outro perigo”. 
Piscar faróis: essa prática é usada para indicar problema à frente. Pode ser acidente, queda de barreira/árvore ou tráfego parado. Alguns motoristas usam sinal para indicar presença de policiais, mas tal atitude pode atrapalhar caso o bloqueio seja com vistas ao tráfico ou prisão de criminosos, e não de trânsito.
Movimentar o braço como um pêndulo com a mão esticada: barreira, desmoronamento, acidente. Algo está fechando a pista. Dependendo da gravidade, os faróis de luz são insistentes. Quatro dedos virados para baixo: animais na pista. Dois dedos virados para baixo: pedestres na pista.
Fechar a mão começando pelo dedo mindinho até o polegar (sinal de roubo): há ladrões na região, local propício para roubo de veículos/carga. 
Fricção dos dedos polegar, indicador e médio (sinal de dinheiro): há fiscais, agentes ou policiais à frente. O condutor não deve correr este risco, pois a grande maioria desses profissionais repudia a corrupção, e quem oferecer qualquer vantagem pode ser preso em flagrante. 
Sinalizar com a mão como se apontasse uma arma: há radar móvel na pista, e o sinal é dessa forma, porque o aparelho aferidor de velocidade é semelhante a uma arma. O fiscal/policial aponta para o veículo a que ele quer aferir a velocidade. 
Segurar a gola como se arrumasse uma gravata: blitz grande. A gravata significa que o chefe ou o comandante está na operação, ou seja, a tolerância é baixa, “o nó está apertado”.
Movimentar os dedos juntos no sentido vertical, como se estivesse quebrando o pulso: significa que há mulheres que trocam favores sexuais por carona. Isso representa um grande risco de assaltos.
Atualmente, os celulares e os rádios (“PX” e “PY”) fazem parte do dia-a-dia dos estradeiros, entretanto a comunicação visual, devido à sua credibilidade e o custo zero, sempre estará presente nas rodovias.
Texto de Augusto Francisco Cação, coronel da reserva da Polícia Militar, mestre em ciências policiais de segurança e ordem pública, especialista em gestão e direito de trânsito, bacharel em ciências policiais de segurança e ordem pública, bacharel em direito e palestrante de direção de defensiva.



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