Pelo menos metade dos caminhoneiros já precisou usar drogas para dirigir


As jornadas exaustivas de trabalho e a distância do lar já levaram pelo menos metade dos caminhoneiros no Brasil a usarem estimulantes como anfetaminas e outros tipos de drogas para vencer o sono depois de mais de 10 horas ao volante. É o que revela a pesquisa “As Drogas e os Motoristas Profissionais”, publicada pelo Programa SOS Estradas.
Especialmente nas rodovias concessionadas, equipes de emergência prestam socorro invariavelmente a motoristas profissionais já em estado de pré-overdose. O quadro, aponta o relatório, é um indicativo da necessidade urgente da adoção de iniciativas por parte do poder público para conscientizar a categoria sobre os riscos e os males provocados pelo consumo das substâncias.
Para especialistas, o poder público é negligente diante das diversas ocorrências de acidentes graves, que muitas vezes resultaram em mortes, nos quais ficaram comprovados o uso de uso de drogas pelo motorista responsável. E criticam a postura de apontar as operações de Lei Seca como único instrumento repressor ao motorista que assume o volante alcoolizado. Nas operações realizadas nas rodovias, as estatísticas demonstram que o número de condutores flagrados com drogas nas cabines dos caminhões é superior ao de caminhoneiros que dirigiam sob efeito de álcool.
Em paralelo, a falta de mão de obra qualificada potencializa os riscos de acidentes. O Ministério Público apurou que é crescente a quantidade de caminhões que trafegam pelas estradas com excesso de carga. Com menos caminhoneiros no mercado, as empresas levam mais do que o permitido nas viagens.
Das mais de mil mortes de profissionais das estradas que acontecem todos os anos nas rodovias brasileiras, parcela delas indica que os acidentes foram provocados pelo consumo de drogas. A Universidade Federal de Minas Gerais calcula que três em cada dez caminhoneiros usam rebites e anfetaminas para ficarem acordados ao volante.
A Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais ouviu caminhoneiros do Ceasa, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, onde constatou que 50,9% dos profissionais que já sofreram acidentes no trabalho faziam o uso de drogas. “Concluímos que o problema das anfetaminas nas estradas é tão grave quanto o do álcool nas ruas da cidade. É algo do qual o caminhoneiro dificilmente consegue escapar na situação atual, com a pressão, o prazo de entrega, os prêmios, as comissões, e tudo mais para apressá-lo”, afirma o professor e médico-perito, Leandro Duarte de Carvalho, coordenador da pesquisa, que revela ainda que 86,9% dos condutores que admitiram fazer o uso das anfetaminas têm jornadas acima de 13 horas ininterruptas.
Dos entrevistados que confirmaram fazer o uso de estimulantes, 70% tem idade entre 20 a 46 anos e 21% de 46 a 75 anos. A frequência de uso da substância, na maioria dos casos, chega a até três vezes por dia.
Em 2007, o Ministério Público do Trabalho identificou o uso de cocaína em mais da metade de 104 caminhoneiros examinados durante operação nas rodovias do Mato Grosso. Cerca de 80% dos caminhoneiros abordados pelos promotores relataram sentir sono em serviço.
O estudo, disponível na íntegra aqui, convoca a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) para elaborar uma política de combate às drogas pela redução dos acidentes nas estradas. E aponta a necessidade de incluir os Institutos de Criminalística nas perícias de acidentes, para aprofundamento das investigações sobre as causas de acidentes que envolvem o transporte de cargas rodoviário.



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