Caminhoneiros afirmam que greve foi ato de “desespero”


A paralisação em Rondonópolis de seis dias foi o “desespero” do transporte de cargas graneleiro de Mato Grosso diante o baixo valor de frete. A tonelada para um trecho de 600 km estava na casa dos R$ 70 com 5% da safra de soja colhida, mesmo valor praticado nos últimos meses de 2016. Durante reunião entre os transportadores, setor produtivo, comerciantes/processadores e o Governo de Mato Grosso na manhã desta quarta-feira, 25 de janeiro, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) isentou-se de discutir o valor do frete atribuindo à situação vivida há três anos pelos caminhoneiros a questões de políticas públicas.

Caminhoneiros, autônomos e empresários do setor do transporte fecharam a BR-364 em Rondonópolis em dois pontos entre os dias 13 e 18 de janeiro. O movimento só foi encerrado mediante a garantia de uma reunião com os governos Federal e Estadual.

No próximo dia 31 de janeiro o setor, juntamente com o vice-governador de Mato Grosso, Carlos Fávaro, e o senador José Medeiros irão se reunir com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Nesta quarta-feira, 25, um encontro foi realizado em Cuiabá com a presença dos transportadores, Governo do Estado, Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que representa as tradings e processadores de grãos (indústria).

De acordo com o empresário e representante do Movimento dos Transportadores de Carga (MTG), Gilson Baitaca, o setor levou para a reunião uma pauta “mais ampliada” como solicitado pelo Governo de Mato Grosso no encontro realizado no dia 18 de janeiro. Foram apresentadas questões quanto aos valores de frete que são praticados hoje no mercado, bem como incentivos e benefícios para os transportadores de Mato Grosso. Outro ponto levado foi quanto a questão da exigência maior de fiscalização de produtos transportados que estão fora das normas tributárias do Estado.

“Nós não queremos ser um peso para o Estado. Nós queremos ser parceiros. A paralisação em Rondonópolis não fizemos por querer. Ninguém para de trabalhar e parte para uma paralisação por gosto. Foi por desespero. Estávamos desesperados por já estar com 5% da safra colhida de Mato Grosso e estar trabalhando com fretes praticados nos últimos meses de 2016 quando não há oferta de frete”, destacou Baitaca após a reunião.

Baitaca afirma que o movimento no início da colheita foi para alertar as tradings, a Abiove e o próprio governo da gravidade. Hoje, o frete para um trajeto de 600 km, entre Lucas do Rio Verde e Rondonópolis, aproximadamente, a tonelada sai a R$ 95, quando o ideal seria R$ 110 para cobrir todos os custos. Foram de época de colheita, revelou o representante do MTG, o setor recebe entre R$ 65 e R$ 70 a tonelada.

“A Abiove mais uma vez veio e ela se isentou como sempre de discutir o valor do frete. Ela não discute valor de frete. Ela sempre vem com a questão de políticas, a maioria políticas públicas. Ela empurra o problema para o governo e hoje o governo ouviu os dois lados e o setor produtivo”, declarou Baitaca.

A Abiove saiu da reunião sem falar com a imprensa.

O vice-governador de Mato Grosso, Carlos Fávaro, afirmou que a melhor forma de fazer um preço de frete viável não é tabelando. “É trazendo ao mercado regulação e acabar com a sonegação intermediária”. Fávaro observou que a Abiove entendeu que “ela pode e deve dar prioridade à contratação também dos autônomos. Nós precisamos construir uma legislação para isso”.

Durante a reunião ficou acertado a criação de uma comissão entre caminhoneiros e a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) balizando o valor do preço pauta do frete para que o ICMS possa ser cobrado em cima desse frete. “Também ficou acertada a discussão de medidas que visam combater a sonegação que gera perdas para todos”.

Escoamento necessário
Entre soja e milho está prevista uma produção de aproximadamente 55 milhões de toneladas. Conforme o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Endrigo Dalcin, cerca de 50% das 30 milhões de toneladas de soja esperadas foram comercializadas, enquanto em milho apenas 30% das 25 milhões projetadas.

“Os produtores não participam diretamente da formação de frete. Somos o elo da cadeia que fomenta e produz a carga para as transportadoras e as tradings, que também fazem parte do elo, é que são as formadoras de preço”, comentou Dalcin.

Crise
O setor do transporte de cargas, principalmente de grãos, vem passando por uma crise há três anos aproximadamente, tendo o seu “enterro do segmento” com a quebra da safra 2015/2016, onde somente entre soja e milho foram quase 9 milhões de toneladas a menos produzidas .

Em 2015, os caminhoneiros em Mato Grosso chegaram entre os meses de fevereiro e março a bloquear as principais rotas de escoamento da produção de grãos. Em todo o país foram realizados manifestos em prol de melhores condições de trabalho e um frete que cubra os custos de produção.

O projeto de lei 528/2015 foi criado após as paralisações realizadas no primeiro semestre de 2015, aonde em Mato Grosso todas as principais rotas de escoamento da produção agropecuária com destino aos portos chegaram a ficar bloqueadas. O texto visa o estabelecimento de uma tabela de preço mínimo para o frete, que hoje não cobre os custos de operação do setor de transporte de cargas.

Fonte: Agro Olhar



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