O transporte e seus múltiplos custos

 

O noticiário, trata, de forma cotidiana, as questões de transporte publicando estimativas das cifras bilionárias para manter e melhorar as rodovias, portos, trilhos e aeroportos. Talvez muito alarido e poucas realizações práticas.
Constatamos, com certa inveja, a conclusão do túnel de São Gotardo, na Suíça, que após 17 anos de trabalho e nenhuma correção de preços entregou 57 quilômetros de uma via férrea que mudará a geografia dos transportes na Europa.
Por aqui, quase tudo o que se produz roda em caminhão e o preço dos produtos, em função disso ou em decorrência, em parte por isso, continua subindo e o transporte tem lá a sua contribuição. As justificativas para os aumentos são diversas mas a de que se trata de mero repasse da inflação parece repetida e desgastada.
Não obstante, as entidades que representam o transporte rodoviário de cargas (mais de 60% de tudo o que se transporta no País) afirmam que existe mais de 12% de defasagem nos preços cobrados frente aos seus custos. Creio que atualmente temos certa indulgência por cifras altas e percentuais com 2 dígitos. De qualquer forma, o cenário é ainda sombrio.
De um lado, os embarcadores de carga (indústrias, agro indústrias, operadores logísticos) têm a exata noção da desaceleração da economia e de suas possibilidades de tirar vantagens desse momento crítico.
De outro, os transportadores de carga empresas comerciais e caminhoneiros autônomos-, com ativos de valor significativo precisando remunerar esse capital ou pagar as prestações de suas aquisições sabem que têm pouco poder para impor os fretes nos valores minimamente desejados.
Os setores produtivos pressionados por perda de escala e diminuição do consumo não tem como sobreviver, exceto pela racionalização dos custos, via otimização de processos ou pela lei da oferta e procura. Neste momento mais por esta que por aquela.
Trata-se, como se vê, de um intrincado conjunto de variáveis que terá que ser equacionado com celeridade e, quem sabe, com criatividade.
Em segmentos econômicos, como no industrial, onde a participação da mão de obra nos custos era significativa, a automações e o emprego de tecnologia contribuíram para o barateamento dos produtos. Os eletro eletrônicos custam hoje, em valores absolutos, 1/5 do que custavam há 10 ou 15 anos. Exemplos não faltam.
No transporte, que emprega intensivamente mão de obra, as soluções inovadoras e criativas estão ainda em teste. Veículos sem motoristas, carregamentos e descargas automáticas empregando a Internet das Coisas (IOT, do Inglês: Internet of Things), estradas inteligentes, redução de burocracia e impostos, para citar apenas os casos mais conhecidos.
Examinando detidamente os processo que caracterizam a produção, transporte e consumo notam-se atividades que são praticadas nas suas diversas etapas, sem qualquer finalidade e que apenas acrescentam custos.
Para ilustrar o que se diz, destaco a confirmação de entrega (POD; proof of delivery, do Inglês: prova de entrega). A necessidade de ter um documento físico impresso em papel para a assinatura do recebedor desencadeia dezenas de atividades e intervenções que encarecem todo o processo.
Admitindo que a taxa de sucesso de entregas exigida pelos embarcadores é de, no mínimo, 95% e que esse índice de acerto está consagrado pelo mercado, estamos colhendo “prova de entrega” com assinaturas, papeis e uma quantidade absurda de procedimentos, para resguardar, no máximo, 5% de casos duvidosos sobre essas entregas.
Nos tempos dos smartphones, geo-localização, fotos e tecnologias embarcadas capazes de “ler” códigos por aproximação (NFC, como no cartão do bilhete único dos ônibus) de identificar chips com códigos encriptados e seguros, quem sabe não seria hora de enfrentar alguns desses geradores de custos, complicados, caros e desnecessários.

Texto de Paulo Westmann



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