Bolha rodoviária: excesso de caminhões pressiona valor do frete e agrava endividamento


O diretor de Transporte de Cargas da CNT (Confederação Nacional do Transporte) e ex-presidente da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) Geraldo Vianna avalia que o Brasil vive uma “bolha rodoviária”. Vianna cunhou a expressão após analisar o mercado do transporte rodoviário de cargas, no Brasil, nos últimos anos. Com base em dados da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e da indústria automotiva, ele afirma que o país tem, hoje, excesso de 300 mil veículos de carga.
Conforme Vianna, somente entre 2012 e 2015, a frota teve um crescimento de 30%. No período, empresas de transporte e transportadores autônomos investiram, aproximadamente, US$ 10,5 bilhões. Para se ter uma ideia, empresas concessionárias de rodovias aplicaram, no período, US$ 2 bilhões, e as montadoras, US$ 3,7 bilhões.
Segundo ele, a produção e comercialização de caminhões novos, estimulada por uma política de concessão de crédito e crescimento da economia, estimulou os investimentos. Agora, em um cenário de estagnação econômica, com a redução da demanda e o excesso de oferta do serviço, a tendência é de achatamento do preço do frete. E a consequência pode ser inadimplência, já que os financiamentos precisam ser pagos. Mas as receitas não são geradas em proporções que permitam que as dívidas sejam honradas.
Em entrevista, Vianna falou sobre o problema e possíveis soluções para amenizar essas consequências.
O que demonstra a existência dessa “bolha rodoviária”, como o senhor chamou?
É uma constatação que resulta dos números da produção da indústria automobilística e dos dados do RNTRC (Registro Nacional de Transportadores de Cargas) e da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Nos últimos três anos, houve um crescimento da frota de tal maneira que foram vendidos e licenciados, em média, 150 mil caminhões por ano. Isso é um número espantosamente alto quando você compara com a média histórica, desde a década de 1960. Quando verificamos qual foi a evolução do PIB (Produto Interno Bruto) nesse período, o necessário seria 60 mil veículos a menos por ano. Ao multiplicar por cinco, chegamos aos 300 mil, que é o excesso de veículos.
Quais as consequências disso?
Isso é um problema, porque caminhão a mais significa pressão de oferta, que faz com que o preço do frete caia. De um lado, a demanda está reduzindo. Você não tem carga para transportar. De outro, há numa quantidade absurda de veículos a mais do que seria necessário, empurrando o preço para baixo. Então, o transportador perde duas vezes e o que ele ganha torna-se um valor de subsistência, mal cobre o custo.
E há, ainda, o endividamento…
É, porque não gera nada que permita que ele pague a dívida, que é astronômica. É só você colocar o preço nesses valores. Contratou-se financiamento em patamares inacreditáveis. Verificamos que o setor investiu mais de US$ 10 bilhões. E esses financiamentos devem ser quitados com uma receita que ninguém sabe se vai ter. A verdade é que, hoje, temos um endividamento com ameaça de virar inadimplência, em um montante elevado. O sufoco é esse: ganha-se menos, com o custo subindo na outra ponta, como do diesel. E não há preço para sobrar um valor no fim do mês. A única coisa que resta é o crédito. O total dessa dívida não tem como ser pago, a menos que o Brasil volte a crescer na faixa dos 4% ao ano.
O enfrentamento a essas consequências passa pelo projeto que o Congresso Nacional aprovou, recentemente, autorizando o refinanciamento das dívidas de caminhoneiros? Ou quais são elas?
O refinanciamento é uma delas. E tem que haver, com condições razoáveis, com um juro razoável, para não se transformar em um grave problema de natureza financeira. Sem dívida alguma, tem que tirar a pressão sobre o transportador. Mas é preciso atacar a questão da bolha, por exemplo, fazendo o que o governo federal não fez lá atrás, que é uma política de renovação da frota, com a retirada dos veículos muito antigos de circulação e a reciclagem desse material. A estimativa é que existam até 150 mil caminhões com mais de 25 anos ainda sendo utilizados. E isso deve ocorrer sem aumento da frota.
Fonte: Agência CNT



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