Desde a última paralisação dos caminhoneiros ficou ajustado entre eles e o governo um novo encontro que trataria do motivo principal da paralisação: o valor dos fretes recebidos pelos caminhoneiros. Na semana passada reuniram-se em Brasília os representantes da categoria e o governo, para a retomada das negociações. Durante o encontro ocorreu a comunicação do posicionamento definitivo do governo: os representantes dos caminhoneiros foram informados que a tabela de fretes mínimos é inconstitucional e, portanto, não seria apreciada tal alternativa. O óbvio desfecho do desacordo foi a paralisação de algumas rodovias do país no transcorrer da semana passada.
Ainda que tímida a paralisação, ela reflete o descontentamento frente ao valor dos serviços prestados pagos aos caminhoneiros autônomos. Um olhar mais atento no sentido de compreensão da forma de funcionamento do mercado e do cenário em que eles estão inseridos fornecem algumas explicações e projeções acerca do futuro deste imbróglio. Os autônomos prestam serviços às empresas de transporte rodoviário, que os remuneram com base nas leis de oferta e demanda e este mecanismo é base de funcionamento, desde que o transporte rodoviário foi considerado um setor econômico significativo no país, nos idos dos anos 60. A atual recessão econômica diminui consideravelmente a demanda e por decorrência a produção dos bens de consumo final, bem como das respectivas cadeias produtivas e isto gera diminuição de bens a transportar. A consequência é óbvia e constatada através da diminuição do valor dos serviços prestados pelos caminhoneiros.
A situação é preocupante na medida em que a gestão de resultado do caminhoneiro autônomo fica prejudicada por queda na receita e, neste sentido, existe uma propensão ao corte nos custos de manutenção do veículo e tentativas de utilização do veículo, além da jornada máxima legal, como forma de manutenção dos ganhos. A utilização desta técnica é amplamente difundida na gestão de empresas dos setores industrial, comercial e agronegócio sem que haja dano ambiental ou social, mas quando se trata de veículos o dano pode ocorrer em razão do meio em que opera (estradas).
Neste cenário, qualquer entidade seja governo ou caminhoneiros (ou ambos), que busque medidas para uma solução de curto prazo, certamente vai se deparar com uma barreira que será impactante na economia: a elevação dos fretes. O realinhamento dos fretes pagos aos caminhoneiros para patamares mínimos é inexorável, seja no curto, médio ou longo prazo. A questão a ser respondida é: quem paga esta conta.
Uma solução razoável para manter o nível de competitividade atual do sistema logístico do país (que já não é dos melhores), seria o repasse das necessidades de manutenção dos valores de fretes mais baixos para os modais ferroviário e hidroviário. Ocorre que esta solução somente poderá ser operacionalizada no longo prazo, pois reverter o cenário da parca infralogística destes modais, aliada a má regulamentação (que privilegia monopólios e duopólios), não são soluções de implementação no curto prazo.
Vale lembrar que o motivo desta paralisação é o mesmo que desencadeou a primeira paralisação significativa dos caminhoneiros em 1999. Naquela ocasião o governo agiu da mesma forma e nada fez além de regulamentar o vale pedágio. A solução veio através algo inesperado e não planejado: o aumento da safra do país por volta de 50% em cinco anos. Com mais bens a transportar o valor do serviço prestado pelos caminhoneiros também aumentou. Porém, esta solução do tipo laissez-faire é impraticável por simples ausência de área de plantio para expansão da safra. O governo precisa agir.
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