Estradas ruins multiplicam gastos com transporte rodoviário

O transporte rodoviário é o principal modal da matriz logística do Rio Grande do Sul. Corresponde a 85,3% da movimentação no Estado, índice superior à média nacional, que depende 68,9% das rodovias. Dos 8 mil quilômetros de rodovias estaduais, apenas 4,7 mil são pavimentados e somente 126 duplicados, segundo dados do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). No momento, 1,1 mil quilômetros estão em obras — para pavimentação ou duplicação. Nas rodovias federais, a situação é semelhante. Dos 5,3 mil quilômetros, 307 estão duplicados e 345, em obras.
Além de colocarem em risco a vida dos motoristas, estradas sem pavimentação ou não duplicadas provocam gastos com pneu, combustível e peças. Em média, o custo repassado aos produtos transportados representa 30% do valor da mercadoria. “A solução para isso seria investimento maciço em infraestrutura. Pode até ter pedágio, desde que tenhamos estradas em condições para transitar”, afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística (Setcergs), Sérgio Neto. Ele aponta que em países que investem em infraestrutura, como a China, apresentam um Produto Interno Bruto (PIB) superior ao brasileiro. No RS, o custo com transporte de cargas representa 17,3% do PIB, índice semelhante ao brasileiro. Nos Estados Unidos, encontra-se em 8% e, na Ásia, em 9,5%.
As dificuldades não se restringem às condições de infraestrutura. Para quem vai começar um negócio, os principais problemas são a burocracia e a tributação. Após a formalização no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), a questão tributária toma tempo. “Depois da burocracia para abrir a empresa, o empreendedor tem que fazer um estudo para saber como tornar o negócio viável”, afirma Neto.
O roubo de cargas também provoca prejuízos. Em média, as empresas de transporte gastam 12% do seu faturamento investindo em equipamento de segurança. “Isso tem forte impacto no custo logístico”, diz Neto. No Brasil, cerca de R$ 1 bilhão é roubado ao ano em mercadorias e caminhões não recuperados. No RS, são mais de R$ 100 milhões em perdas, com cerca de 300 ocorrências em 2012.
Outro ponto que impacta principalmente quem vai começar um negócio no setor logístico é a falta de motoristas qualificados para o transporte de cargas, problema que atinge também empresários já consolidados no ramo. Estima-se que, no Brasil faltem cerca de 120 mil profissionais e, no Rio Grande do Sul, em torno de 15 mil.
Logística cara desanima empresários
O déficit histórico infraestrutural no Rio Grande do Sul encarece a logística e desencoraja aqueles que querem empreender no setor dos transportes de carga. Comparado ao estado vizinho, Santa Catarina, e a São Paulo, o RS ficou anos sem investimentos em rodovias. “A grande obra que tivemos foi a construção da freeway. A mais recente é a BR 448, que tem 22 quilômetros de extensão”, lembra Francisco Cardoso, diretor da Interlink Cargo e vice-presidente de Transporte Internacional do Setcergs. Ele afirma que, se as estradas brasileiras fossem como as dos Estados Unidos, os custos variáveis do transporte (combustível, pneus, peças e manutenção dos caminhões) poderiam ser reduzidos em 20%. “Não é a dependência do modal rodoviário que encarece a logística brasileira, mas a condição das rodovias”, comenta ele.
O Brasil conta com cerca de 200 mil quilômetros de estradas, dessas apenas 11 mil são duplicadas. “Para termos condições de concorrer com as economias desenvolvidas, temos também que aumentar nossa malha viária”, opina Cardoso.
Outra barreira assinalada pelo empresário dirige-se não apenas ao transporte. Segundo Cardoso, apesar de o crédito estar mais acessível e barato em comparação a anos anteriores, é muito difícil abrir uma empresa e mantê-la, visto a quantidade de regulamentações que devem ser cumpridas. O setor de logística está entre os que mais pagam impostos no país. “Quanto mais uma empresa cresce, mais cara ela fica e mais obrigações tem. Por isso que a maioria das empresas são de pequeno porte e não conseguem crescer.”
Cardoso considera ainda que um desafio para que o país evolua economicamente é o enfrentamento das leis trabalhistas. O decreto da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) data de 1943. “Temos uma legislação antiga e engessada. Nos Estados Unidos, paga-se por hora de trabalho. No Brasil, não pode. A pessoa precisa trabalhar no mínimo seis horas por dia.”
Quanto aos prejuízos com o roubo de cargas, o setor empresarial propõe que as autoridades aprovem leis que punam os receptadores de mercadorias e caminhões. “Segurança é dever do Estado, mas a gente não a tem. Por isso, as empresas precisam investir em gerenciamento de risco e isso custa até 8% da tarifa do frete”, diz Cardoso.



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