No que depender do agronegócio, da indústria, do governo federal e
do Congresso Nacional, a vida do caminhoneiro vai piorar muito. Esta é a
opinião do procurador Paulo Douglas Almeida de Moraes, do Ministério
Público do Trabalho (MPT). Ele participou nesta quarta-feira (8) do XIII
Seminário Brasileiro do Transporte Rodoviário de Cargas, promovido pela
NTC&Logística, na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Segundo
o procurador, se acatadas, as mudanças na Lei do Descanso (Lei 12.619)
propostas pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI), a “sobrejornada” dos
motoristas profissionais será legalizada no Brasil. Ou seja, a situação
ficará bem pior do que quando a lei não existia.
Sob
pressão das duas entidades, a Casa Civil propõe ampliar para até seis
horas o tempo de direção ininterrupta. Segundo a lei, a cada quatro
horas ao volante, o caminhoneiro tem de descansar meia hora. Também
propõe a possibilidade de quatro horas extras ao dia. Hoje, são apenas
duas. E ainda a jornada flexível, ou seja, o motorista pode iniciar o
trabalho em horários variados de um dia para outro. “Isso tudo somado
significa legalizar a sobrejornada que mata motoristas às pencas”,
afirma o promotor.
De acordo com ele, tanto o
Congresso, quanto o governo estão claramente dispostos a acatar as
sugestões de “ajustes” da CNA e da CNI. “O que se extrai de positivo do
debate de ontem é a declarada disposição da NTC (NTC&Logística) e
CNT (Confederação Nacional dos Transportes) de preservar o espírito da
lei, ou seja, de limitar efetivamente a jornada e tempo de direção dos
motoristas”, explica Paulo Douglas.
Ele não
acredita, no entanto, que esses posicionamentos sejam suficientes para
“evitar o retrocesso”. “É preciso que os motoristas digam não a esse
absurdo”, declara. O procurador afirma que cabe às entidades
representativas de caminhoneiros, incluindo a Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Transportes Terrestres (CNTTT), mobilizarem a categoria
contra as mudanças na lei. “Se tudo isso for implementado, teremos uma
situação muito pior do que a que existia antes da lei. Seria melhor que
não houvesse lei alguma”, acredita.
Questionado
sobre a posição do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), que se
juntou ao agronegócio para pedir a flexibilização da lei, Paulo Douglas
afirma: “O MUBC foi um instrumento e deu o maior tiro no pé dos
motoristas.”
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